quarta-feira, janeiro 12

O Inverno e Setembro



Quero sensações diferentes, preferir sentar ler um jornal e procurar por palavras, talvez esperar um chá.

Que os vizinhos reclamem do barulho, e que eu possa pintar minhas paredes. Talvez a palavra do dia seja descoberta.

Hoje não quero usar perfume, muito menos maquiagem, quero sentir o meu cheiro, quero enxergar pelo espelho o reflexo no meu rosto em meus olhos. Eu quero voltar a enxergar minhas mãos como se fosse minhas, quero que a minha alma se torne mais profunda e complexa.

Hoje quero me manter equilibrada, girando em tudo a minha volta. Observando cada espaçamento do meu mundo e o círculo em que as minhas energias se concentram, tenho certeza absoluta que há uma ruptura.

Decidi que o inverno chegue de uma vez, e que as coisas boas de setembro voltem. Quero parar de imaginar coisas ruins e usar mais vezes lápis de cor. Não quero precisar contar os cigarros das carteiras que fumei.

Não quero arrumar a casa, muito menos tirar o lixo. Hoje quero bagunçar a bagunça de dentro de mim. Quero mudar de cidade, preciso de mudanças urgentes. Nesse mundo transformado, olho, como se tudo estivesse do jeito que era para ser.

Quero ter certeza dos meus sentimentos, e por enquanto me manter longe das pessoas. Quero papéis em branco para que eu possa apenas rabiscar versos sem sentido. Quero que aquela música pare e outra começe, talvez listar o nome das pessoas que eu mais amo, quero que a chuva pare de ameaçar sua presença e venha levar toda a sujeira que está debaixo do tapete, e com sua pureza lave toda a sujeira que está presente nas pessoas.

Preciso poder amar em absoluto, não pela metade, quero não dar valor às pessoas, ou talvez quiser o que elas não podem me dar, ou simplesmente confiar mais nelas, quero parar de querer, quero parar de iludir as pessoas, quero parar de pensar um pouco.

E como dizia Martha Medeiros: - (...) e você exige estar sempre possuída por um encantamento.

Na verdade eu só quero esquecer-se de tudo amanhã.

segunda-feira, janeiro 10

Doce Novembro



Juro não saber o que me atraiu, apenas marcou, em rugosos oito anos da minha história, permaneceu na minha memória, pois em voz seca e pequenas letras assumirei, tu és meu amor platônico, como sempre o denominei.

Eu apenas sentia. Essas sinestesias do jovem associados com o primeiro amor, que tu fizeste parte de uma linda fase da minha essência, misturados com uma pitada de rebeldia, mas que fazia meus dias mais inconstantes, uma mera diversão em tempos de escola.

Durante todos aqueles anos, em que fui completamente apaixonada por um “menino-homem”, havia cerca de milhões de conjugações a serem ditas, e trilhões de palavras ao serem escutadas, houve também muitas ideologias fracassadas e gastas, tudo isso, na verdade se resumiria a uma formula matemática, só que não haveria resultado exato se não existisse uma constante.

Nunca precisei de muitas coisas, bastava apenas que tu me levasse junto para o outro lado do oceano, me guiando em forma de poemas livres, apenas numa única noite. Mas o tempo curou a diferença de idade, pensamentos e mil fatores.

Apesar do tempo, nunca tinha tirado-o da minha cabeça, mas em absoluto do meu cotidiano, teve outros amores, pequenas decepções, mas nada que fosse possível me tirar do meu mundo constante e cômodo. Eu sinceramente não vejo nenhum lado negativo nisso, era como se fosse uma parede de concreto com olhos vendados e um ouvido seletivo.

Até que num dia qualquer, depois de uma longa viagem tu apareceu, muito diferente, quando me puxou forte pelo braço, como se fosse uma supresa, enquanto estava distraída conversando, naquela festa, naquela linda noite de verão. Imediatamente lhe ofereci um lindo sorriso sincero e um abraço, em que você me levantou do chão me rodando, feito boneca. Fazendo meu coração disparar e segurar mais forte na tua blusa.

Mas eu queria sempre lhe ver como um amigo distante de infância. Com um enorme carinho. Falavamos com a boca uma do lado da outra, mas mesmo assim me comportava como se aquilo fosse uma coisa impossível, eu realmente queria acreditar que não estava acontecendo, eu estava tremula e fugindo, quando eu olhei para o lado, ele me puxou pela cintura e me beijou.

Eu por extinto começamos a rir, e a nos beijar cada vez mais, com o mais completo carinho que um sentia pelo outro. Sentir sua respiração, provar o gosto do perfume forte, poder tocar o pescoço molhado de suor enquanto deslizava os dedos na pele quente e úmida, e aleatoriamente sentir o movimento da tua boca com seus grandes lábios.

Conversamos depois de muito tempo, fizemos confissões de planos e nós éramos apenas duas pessoas no meio de uma multidão em festa, compostas por energias que faziam nossos corações vibrarem.

Mas novamente ele teve que partir para longe, e pedi para que ele trouxesse uma pedra qualquer, que ele juntasse do chão a qualquer momento e se lembrasse de um curto tempo comigo, em que fizeste parágrafos líricos, em forma de lágrimas de saudade.

E é com essa carta que me despeço repleta de sorriso do meu antigo amor inocente, deixo escrito um passado, um momento que não retornará, chegaste o momento em que agora o inesquecível, se tornará palavras e humildemente peço por novas folhas para o meu livro e uma viajem para perto de ti.

Ou sorrir, só sorrir.




Na verdade eu apenas precisava de um café e cinco minutos para resolver tudo.

Parece que foi ontem que os trocadilhos inverteriam seus sentidos, que à forma já não era mais a mesma e que eu me sentiria invocada com meus sentimentos.

Hoje resolvi fazer tudo diferente. Dormi tarde, acordei cedo. Fui caminhar pela manhã, enquanto andava apenas por andar, pensava insistentemente no mesmo assunto, que para mim era totalmente o absurdo. Mas eu precisava me decidir.

Entrei, não sei por que, numa padaria, apesar do calor que fazia, não me importei, imaginei que talvez aquilo tudo fosse passar, e que realmente era apenas pensamentos de uma pessoa que realmente estava sozinha em casa. Pedi um café expresso forte com pouco açúcar, meus desejos já começavam a me assustar. No primeiro gole o café estava quente, em seguida, senti o gosto amargo, mas mesmo assim, foi uma espécie de anestésico para uma alma perdida. Realmente estava quente.

Eu observava as pessoas, colocava as mãos sobre a cabeça, numa tentativa em vão de conhecer a essência, de analisar os fatos, esquecer o tempo, não era realmente necessário pensar naquela madrugada composto de um sol gritante. Como dizia Caio Fernando Abreu: “Tome mais um café, fume outro cigarro, qualquer coisa assim. Foi exatamente há um ano, na lua cheia de maio. Depois, nunca mais. Por onde você tem andado, baby?”

Essa espera árdua, perpendicular a minha cabeça, comecei a passar mal. Não sei o que aconteceu, só sei que era difícil, eu realmente queria parar de pensar, dialogava comigo mesma, fui franca, honesta, e sabia que não poderia omitir nada, nenhuma espécie de sentimento haveria saída. É sempre mais fácil escrever e lá numa página ler e se reencontrar, talvez eu tivesse perdido o rumo, ou teria medo de saber que encontrei o caminho certo.

Foi aí que chamei o garçom, pedi mais um café e uma caneta, peguei uma folha da minha bolsa e conclui apenas que eu poderia resumir, para mim também era necessário, mas nem sempre foi suficiente. Era realmente mais fácil continuar sendo constante e contraditória, do que me tornar vulnerável à outra pessoa. Quero parar de estragar surpresas, quero falar menos, quero me apaixonar mais vezes.

Foi uma longa manhã.