terça-feira, outubro 26

A Tragédia de vida, dos 7 dias de Maio.


Ao longe alguém buzina insistentemente, eu estava a sua espera. Passando pela porta ouvindo o rádio do vizinho. Lentamente chovia, lembro-me que a noite era tão fria, minhas luvas já não suportavam o congelador de idéias que pairavam sobre minha cabeça. Eu sabia que iria ser bem mais perturbador que das outras vezes.

No caminho foram-se ouvidos bocejos, silêncios e corujas. Acompanhadas de uma linda vista e alguns rostos vermelhos e engolidos pelo choro. A espera estava sendo angustiante. A sinestesia era multiplicada por cinco. Parecia que eu estava sendo levada à inquisição, como uma heresia que não havia cometido. Ou não.

A lareira estava acesa, algumas pessoas vinham e me abraçavam, e o seus olhares provocavam rugas na testa. Não entendia ao certo: Eram planos e metas. Giravam na minha cabeça cada atitude resistente, cada palavra de repressão e de amor, cada sina, todos os rumores, virados em pensamentos erôneos. Eu ainda não sabia o que acontecia. Sentia dor.

Para que entendas melhor estávamos no ano de 1939, mais precisamente em maio. Em meios aos turbilhões de Berlim, éramos perseguidos como cães. Estávamos em uma roda, na casa de amigos, nela tinha desconhecidos, amigos, amigos de amigos que na verdade eram desconhecidos, enfim, eram muitas pessoas ao nosso lado. Resolvendo o que faríamos para combater esses tais Socialistas Trabalhadores Alemães, como era chamado o partido Nazista.

Tudo estava revirado. Grandes jornalistas já tinham medo de descrever cenas, e se não parassem o funcionamento de suas máquinas de escrever eram simplesmente largadas e jogadas junto com seus corpos. Ainda sinto o horripilante arrepio daqueles rostos, roupas, tristezas, tiros, gritos, aquele cheiro de morte. Ouvia sentimentos, um mais fugaz que outro, e a única coisa que eu precisava era entender. Era horrível a sensação de curiosidade de tudo que aconteceria futuramente, as pessoas apenas me cercavam e cada hora que se passava era mais torturante.

O mago me falou, que eles ainda continuam entre nós e que as razões para os corações estavam nos momentos decisivos para os sete dias de maio. O sono chegava, mas as lágrimas já haviam cessado. Nada mais poderia se remendado, arrumado com tentativas inúteis e explicações fúteis. Nada tinha passado e tudo tinha acontecido.

Para muitos não passei de uma desilusão, algo não quisto. Uma segunda imagem. Eu ainda não compreendia a imensidão do improvável que estava por vir. Eu era apenas uma experiência sem sucesso. Não me encontro em certas faculdades mentais para sentimentos. Não seria a melhor companhia. Além do mais agora nada mais importa. Eu fui pega e a espera por mais papéis e tintas eram cada vez mais torturantes, as que chegavam até a mim, eram trazidas as escondidas por amigas de sofrimento, disfarçadas. E só lembro-me de gritar com os soldados: – Isso tudo é uma farsa.

Pois bem, sentirei falta do cheiro da folha e dos dedos marcados de tinta preta. O pior de se igualar a elas é sentir o que elas fazem. E ainda querem explicações por eu ser um animal tão frio.

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