sábado, novembro 27

O Côncavo em forma de sorriso.


Aquele olhar desesperado para a janela, todos os dias ascender um incenso para atrair coisas boas, aquele arrepio quente da música favorita, os mesmos títulos na estante, tudo muito certo, constante, juro que tudo isso já começava a me perturbar.

Sentada em um banco na rua, eu ficava insistentemente acendendo o isqueiro pra tentar simplesmente esquecer absolutamente tudo, precisava sentir aquilo de novo, aquela sensação do aperto, insegurança, inconstância, era realmente urgente para um coração aflito, uma cabeça mergulhada no fundo do poço; Mais uma cabeça, dentre tantas.

Apenas queria parar no meio fio de uma calçada qualquer e chorar, porém há anos tenho procurado pela rua e até hoje não tinha sentido em minha pele seca qualquer tipo de lágrima, que me fizesse levantar em busca do que descreverei. Estava completamente perdida.

Dentre cartas, bilhetes, não sobraram absolutamente nada, apenas aquele clarão incendiar-se sobre minha pele, até que inconscientemente ficasse vermelha. Não sabia se era raiva ou calor, eu realmente não conseguia mais distinguir meus sentimentos. Era no mínimo estranho.

Resolvi tirar minhas próprias conclusões dos fatos, precisava mesmo era sentir no auge da loucura todo aquele sofrimento aquelas coisas redundantes enfim que simplesmente acontece, e gritar, respirar, rir da tua loucura, ficar com vergonha, gritar de novo e inventar canções.

Deitar no chão e observar as voltas do ventilador do teto, consertar a mesa, dar risada quando se perde dinheiro, beber uma cerveja e conversar sobre a bolsa de valores, nem mesmo sabendo direito o que é. São coisas simples que aprendi a dar valor nesse exato momento.

Essa preciosa alma urgentemente diz em um anúncio num jornal qualquer: “Precisa-se de novos livros, um cinzeiro, e um novo amor.”

Um comentário:

  1. ''..aquela sensação do aperto, insegurança, inconstância, era realmente urgente para um coração aflito, uma cabeça mergulhada no fundo do poço..'' E dói demais, mas a dor deve ser sentida na sua essência, na sua mais profunda complexidade, mergulhar no profundo e escuro poço da ausência para descobrir no fim de tudo tamanha força há nessa alma aflita que sofre, caí, levanta e segue em frente.

    Gostei demais!

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